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domingo, agosto 15, 2010

Uma reflexão sobre a modernidade!

O amigo e colaborador Gera Souza fez chegar em minhas mãos este belo texto de Carlos Alberto Libânio Cristo, o Frei Betto, que nos conduz a uma reflexão sobre a modernidade e os caminhos aos quais ele nos leva. Muito interessante! 
"Ao viajar pelo Oriente,  mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da  China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus  mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do  aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com  telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais  do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa,  mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam  vorazmente.

Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz  felicidade?' Encontrei  uma menina, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não  foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei:  'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.  'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta  coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina',  e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei  pensando: 'Que pena, a menina não disse: Tenho aula de  meditação!' Estamos  construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas  emocionalmente infantilizados. Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis  livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias  de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo,  mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do  espírito.  Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o  defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como  fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade  amorosa? 
Hoje, a  palavra é virtualidade. Tudo é virtual. 
Trancado em seu quarto, em  Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma  preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é  virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos  virtuais. E somos também eticamente virtuais... A palavra  hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da  imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá  e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de  que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este  carro,você chega lá!' 
O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um  analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a  neurose. O grande  desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. 
Assim, pode-se  viver melhor. 
Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são  indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de  estresse. Há uma  lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,  constrói-se um shopping-center.É curioso: a maioria dos  shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais  estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso  vestir roupa de missa de domingo. 
E ali dentro sente-se uma sensação  paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas  calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do  gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.  
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os  veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Quem deve  passar cheque pré-datado, pagar a  crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se  não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... 
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo refrigerante e o mesmo hambúrguer do Mc Donald... Costumo  advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou  apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares  espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de  descansar a cabeça percorrendo o  centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o  assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta  coisa existe de que não preciso para ser feliz  !"  (Frei  Betto)

Um comentário:

Luís Eduardo Pirollo disse...

Caro amigo Milton, boa noite!!!
Frei Betto tem razão, é mais ou menos isso que estamos criando, gente robotizada... conheço bastante gente assim, não vivem, só trabalham e correm como loucos...
Acho que tudo tem que ser balanceado, dosado, trabalho, estudo e a parte para cuidar das coisas boas da vida. Parabéns pela postagem do excelente texto, muito bom para reflexão! Parabéns pelo Blog, está muito bom. Abraços e muita paz!!!

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